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Description
A ascensão algorítmica na academia, especialmente na educação superior, reconfigura currículos sob racionalidades técnico-científicas ao promover eficiência, mas riscando saberes não-hegemônicos, como os dos povos originários. Assim, objetiva-se nesse estudo analisar as tensões entre as intelecções indígenas e os paradigmas da Inteligência Artificial (IA), com base no Projeto de Lei nº 21/2020, marco ético brasileiro sobre o tema. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa de caráter documental e teórico-bibliográfico. O corpus central é constituído pelo Projeto de Lei nº 21/2020, que estabelece princípios para o desenvolvimento e a aplicação da IA no Brasil. O material é analisado à luz de referenciais teóricos anticoloniais, epistemologias do Sul e contribuições de pensadores indígenas, com o apoio da técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin. Através de lentes decoloniais, desvelam-se silêncios na normativa: embora abrace preceitos como não discriminação, centralidade humana e inclusão, omite-se a justiça epistêmica e o pluralismo cognitivo. Seus princípios, como inovação responsável, participação interdisciplinar e promoção da confiança tecnológica, oferecem, contudo, frestas para insurgência interpretativa e reposicionamento ético diante da colonialidade dos algoritmos. Decerto, a verdadeira democratização da IA transcende a acessibilidade técnica: é necessário gestar ecologias de conhecimento onde múltiplos mundos pensem e ensinem juntos, em diálogo simétrico, ainda que tenso, entre o digital e o intergeracional. Neste cenário, a universidade tem o dever ético de reencantar seus fundamentos e de acolher cosmovisões que insurgem do silêncio histórico. A IA, se submetida à monocultura epistêmica, reproduz apagamentos; se reinventada em chave pluralista, pode tornar-se instrumento de justiça, memória e tecedura interepistêmica.
Palavras-chave | epistemologias indígenas; educação superior, justiça epistêmica. |
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