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A formação da docência para o letramento racial é uma necessidade urgente diante do cenário educacional brasileiro historicamente marcado por silenciamentos e apagamentos de narrativas negras. A efetivação de políticas como a Lei 10.639/2003 e a obrigatoriedade da Educação das Relações Étnico-Raciais nos currículos de formação docente (Meinerz et al., 2021) ainda enfrenta resistências institucionais e epistemológicas, sendo que os avanços tecnológicos e ampliação do uso da Inteligência Artificial nos diversos espaços, em especial, os acadêmicos não estão isentas da produção e reprodução das desigualdades raciais, relações de poder e o racismo algorítmico (Silva, 2022). Um dos principais desafios é o enfrentamento da branquitude como estrutura de poder, muitas vezes invisibilizada por docentes brancos que se veem como sujeitos neutros e universais (Orrico, 2021). Essa ausência de reflexão crítica contribui para a manutenção de privilégios, do Pacto Narcísico da Branquitude (Bento, 2002; 2022) e dificulta práticas pedagógicas antirracistas que favoreçam o processo de ensino- aprendizagem de todas as pessoas imbricadas nele.
Além disso, experiências como as narradas por Nascimento (2022) evidenciam como a racialização das relações acadêmicas se manifesta de maneira cotidiana, afetando o acesso, a permanência e a legitimidade de estudantes negras e negros nos espaços de ensino. A resistência a políticas de ação afirmativa e os mecanismos de avaliação enviesados mostram que o racismo institucional permanece como uma força estruturante. Em resposta a esse cenário, Lima (2023) propõe abordagens criativas e subjetivas, como o podcast, para elaborar criticamente o lugar da branquitude na formação de arte-educadores.
Compreender e atuar sobre esses atravessamentos exige uma formação docente que vá além da inclusão de conteúdos, e/ ou o manejo das tecnologias, promovendo experiências formativas capazes de desestabilizar o lugar de fala hegemônico, como já ressaltado no parecer CNE/CP 003/2004, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. O letramento racial e consciência racial, nesse sentido, devem ser compreendidos como um processo contínuo de desconstrução e reconstrução de saberes, conhecimentos, afetos e práticas, visando a garantia de uma educação mais democrática, plural e antirracista.
Palavras-chave | letramento racial; formação docente; branquitude; ações afirmativas; relações étnico-raciais. |
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